sexta-feira, 31 de agosto de 2012

A vida no olhar da Ana

A uns dias a Ana comentou toda enciumada que eu só falo da Júlia e das experiências dela , achei um
pouco exagerado mas comecei a pensar na nossa vida tentando usar o olhar dela para as coisa e me surpreendi como muda tudo. Não deve ser fácil ser a irmã de alguém tão pequena e com uma história de vida tão cheia de superação. Resolvi voltar um pouco no tempo contar a vida da Ana antes e como eu à percebi através do seu olhar.
Quando a Ana nasceu foi um marco, era a primeira filha, primeira neta, primeira sobrinha e além de todos os primeiros era prematura e muito pequena exigia de nós muito cuidado e dedicação. Como unica ela passou os primeiros 4 anos de vida. E apesar dos mimos não foram fáceis , teve que ser internada no CTI de um hospital por uma laringite quando tinha 1ano e 6 meses, e para piorar sem entender nada viu a separação dos pais que levou a mudança de casa, ausência da mãe por causa do trabalho,febres emocionais que duravam dias quando finalmente começou a se acostumar com a nova realidade eis que surge um elemento novo. Eu comecei a namorar com o Sérgio.
"Quem é ele ? Porque ele está aqui? Porque ele ta abraçando minha mãe?" e daí por diante muitas perguntas e eis que quando ela enfim consegue entender passa a pedir um irmãozinho ou melhor uma irmãzinha. Não demorou muito até que fiquei esperando a Júlia e foi a Ana que escolheu o nome mas quando ela nasceu o ciúme ficou evidente " Não tem graça ter uma irmã que só mama e dorme." 
Quando a Júlia começa a crescer e brincar os dias variavam muito , uns eram cheios de carinho e declarações outros "Ela só sabe estragar meus brinquedos." O tempo passa e a percepção do crescimento gera outras questões "Quando eu dançava todas achavam bonitinho agora só elogiam a Júlia." Quase quatro anos e então vem a notícia do outro irmão , aí a casa cai , já era difícil dividir com um e agora seria com dois. Então o Filipe nasce e a reação é surpreendente quase sem ciúme querendo ser a mãezinha dele. 
Mas o inesperado vem e a doença tira de casa eu e a Júlia ao mesmo tempo.
"Minha mãe só cuida da Julia. Ela vem pra casa só de vez em quando e quando vem fica mais com o Filipe." Por mais que eu explicasse que não podia ficar saindo do hospital e vir dormir em casa ela dizia que entendia mas não aceitava. Quando descobrimos a bondade e solidariedade das pessoas que fizeram nosso coração encher de alegria em  meio a tempestade surge mais um problema para ela OS PRESENTES. A Júlia ganhava roupas , brinquedos , calçados, roupas de cama e a Ana não ganhava nada. Quando alguém se lembrava de mandar as coisas para ela não saía um agradecimento e sim um desabafo " Eu também ganheeeeeeeeei!" O tempo que não estávamos internadas não era garantia que ficaria em casa as vezes ia 4 , 5 vezes no hospital por semana e apesar de saber que não era coisa boa, na cabeça da Ana o que estava claro é que " minha mãe sai com a Julia todo dia e não tem tempo de sair comigo" e olha que eu me esforcei bastante para não deixar de atender as necessidades dela e do Filipe, em períodos de internação da Julia eu levei os dois a Shopping, parque e até no cinema. O surpreendente é que além desse ciúme todo ela continuou estudiosa e dedicada não teve queda de rendimento na escola, ajudou muito a cuidar do Filipe o que fez ele ficar muito apegado a ela e sofria muito a falta da Julia. Falava com ela por telefone todos os dias no hospital e em casa respeitava os piores momentos dela e tentava inventar brincadeiras mais leves. No dia seguinte a uma visita que fez a Julia no hospital escreveu um poema.
Tentar ver a vida no olhar da Ana me fez entender que talvez não seria fácil para um adulto quanto mais para uma menina de dez anos. O que me consola dessa história toda é que todas as vezes que tivemos a oportunidade de conversar sobre essas coisas ela deixa claro não ter dúvida do sentimento que nos uni, o amor.

A DESPEDIDA

Sempre dolorosa                                    
Sempre sem saída
É sempre assim
A inevitável despedida

Sempre apreçada
Sempre sofrida
É sempre assim
A chata despedida

Sem deixar rastros
Só as feridas
É sempre assim                                                                                                    
A rápida despedida                                                             
                                                                                                        Ana Paula L. S. Rezende      

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